Kibutz
Campo de trigo no kibutz En Hashlosha.
Um
kibutz (
hebraico: קיבוץ; plural:
kibutzim: קיבוצים, "reunião" ou "juntos") é uma forma de colectividade comunitária
israelense.
Apesar de existirem empresas comunais (ou cooperativas) noutros países,
em nenhum outro as comunidades colectivas voluntárias desempenharam
papel tão importante como o dos kibutzim em Israel, onde tiveram função
essencial na criação do Estado judeu.
Combinando o
socialismo e o
sionismo no
sionismo trabalhista,
os kibutzim são uma experiência única israelita e parte de um dos
maiores movimentos comunais seculares na história. Os kibutzim foram
fundados numa altura em que a lavoura individual não era prática.
Forçados pela necessidade de vida comunal e inspirados por ideologia
socialista, os membros do kibutz desenvolveram modo de vida em
comunidade que atraiu interesse de todo o mundo. Enquanto que os
kibutzim foram durante várias gerações comunidades
utópicas,
hoje eles são pouco diferentes das empresas capitalistas às quais
supostamente seriam alternativa. Hoje, em alguns kibutzim há uma
comunidade comunitária e são adicionalmente contratados
trabalhadores que vivem fora da esfera comunitária e que recebem
salários, como em qualquer
empresa capitalista.
Os kibutzim forneceram a Israel uma parte desproporcionalmente
importante dos seus líderes intelectuais, políticos e militares. Apesar
de o movimento dos kibutzim nunca ter excedido 7% da população de
Israel, ele poderá ter contribuído, como poucas instituições em Israel,
para cunhar a identidade cultural do país.
Historicamente, com a colonização do Estado israelense, criado pela
ONU em
1948,
os kibutzim também exerceram importante papel estratégico militar
quando dos primeiros conflitos árabes-israelenses, funcionando como
verdadeiras bases avançadas, pois os colonos com treinamento militar e
armas combateram exércitos inimigos até uma intervenção do Tzahal
(exército israelense).
Origens e história
As condições de vida do
Império Russo na virada do
século XIX para o
século XX eram ruins para todos os súditos, mas ainda piores para os
judeus.
Causar a emigração de um terço dos judeus, o batismo de outro terço e a
morte por inanição do terço restante era um objetivo oficial do
Império. Com a exceção de uma minoria de ricos, os judeus eram obrigados
a viver na região fronteiriça chamada de
cherta osedlosti (ou região de assentamento); e, mesmo dentro dessa, não podiam morar em cidades grandes como
Kiev, ou tampouco em vilarejos com menos de 500 habitantes. Para aqueles que se aventuravam a chegar à capital
Moscou, a
polícia local estabeleceu recompensa para a captura de um judeu com valor equivalente à da captura de dois ladrões. (Dubrow, Vol III)
O número de judeus convocados para o exército do
tzar
era desproporcionalmente alto. Enquanto em outros países todos os
militares eram tidos como dignos de honrarias, esses soldados judeus
eram vítimas de profunda discriminação. Por exemplo, ainda que o serviço
militar os levasse para longe da
cherta osedlosti ou até mesmo
para o extremo oriente russo, esses soldados eram obrigados a retornar
para a região de assentamento quando em dispensa. Além disso, durante a
Guerra Russo-Japonesa, vários juízes
ucranianos
aproveitaram-se da ausência dos soldados judeus para livrar-se de suas
famílias, baseando-se em uma lei que permitia a expulsão de famílias
judias sem um chefe-homem que lhes garantisse o sustento. Essa última
agressão foi de fato tão extremada que o governo russo opôs-se a ela;
mas os termos da reprimenda do general Vyacheslav Plehve a seus
subordinados eram claramente discriminatórios: "as famílias dos judeus
convocados devem ser deixadas onde estão
até o fim da guerra." (Ibid.)
A ameaça aos judeus cresceu após a posse do tzar Alexandre III. O seu
governo não só permitia, mas mesmo estimulava as agressões a seus
vizinhos judeus por parte dos lavradores insatisfeitos. As chamadas
Leis de Maio, promulgadas pelo imperador em maio de
1882,
proibiram a moradia de judeus em cidades com menos de 10.000 habitantes
— expulsando várias famílias que há várias gerações viviam no mesmo
lugar — e estabeleceram cotas que impediram o acesso de elevado número
de judeus a universidades e profissões. Era portanto especialmente forte
a repressão aos judeus na Rússia da virada do século XIX.
As reações dos judeus a essas dificuldades foram variadas. Alguns
optaram por envolver-se na luta pelo socialismo no país; outros
decidiram emigrar para o ocidente. Houve judeus que, mantendo-se
ortodoxos, ignoraram os problemas à sua volta, enquanto outros buscaram
ser assimilados pela sociedade russa. Ainda outros judeus — os de maior
interesse para o nosso tema — tornaram-se partidários do
sionismo, cuja ideia central era construir uma nação judaica na terra em que o judaísmo nasceu: a
Palestina (ou Eretz Israel).
Até então, os judeus que migravam para a Palestina o faziam ou em
idade avançada para lá morrer, ou ainda jovens para frequentar as
yeshivás ao redor de
Jerusalém
e Heron. Nos dois casos, o motivo da migração era religioso, e não
social ou político, e esses indivíduos, que não se sustentavam do
próprio trabalho, viviam de doações de judeus de outras paragens.
Já o movimento sionista — não obstante suas profundas raízes na
história judaica — só passou a ser uma força significativa por volta da
década de 1880. Nela, 15.000 famílias oriundas principalmente do sul da
Rússia mudaram-se para a Palestina com a intenção de lá viver — e não
apenas morrer — e de trabalhar com a lavoura, ao invés de estudar. Essa
primeira leva de judeus dispostos a viver uma vida normal na Palestina
recebeu o nome de "Primeira Aliá", e seus membros foram chamados de
"Biluim".
Neste ponto é importante observar que o trabalho na terra é
componente importante do sionismo. É bastante difundida a ideia de que
esse era um movimento de cunho nacionalista. Deve-se notar, no entanto,
que sua componente econômica pregava o retorno ao cultivo da terra como
principal ocupação dos judeus, substituindo assim as ocupações típicas
dos judeus europeus: possuir pensões e lojas de penhora, praticar
"comércio pequeno", etc.
A Primeira Aliá: os assentamentos agrícolas de Biluim nos anos 1880 foram os pioneiros do movimento dos kibutz.
De fato, a geração da Primeira Aliá acreditava que a decadência dos
judeus da Diáspora era explicada pela aversão desses ao trabalho físico.
Eles não só defendiam que do cultivo da terra palestina adviria a
redenção física e espiritual do povo judeu, como chegavam a acreditar
que o solo da Palestina tinha o poder mágico de transformar os fracos
comerciantes judeus em lavradores nobres e fortes. Uma manifestação
dessa crença pode ser vista na edição de 1883 de The London Jewish Chronicle:
"os pálidos e curvados comerciantes judeus de alguns meses atrás"
tornaram-se "lavradores bronzeados, de mãos calejadas e másculos"
(Silver-Brody, 33,36).
Em espírito semelhante ao da "religião do trabalho" exposto acima, o
manifesto dos Biluim proclamava orgulhosamente a intenção de "encorajar e
fortalecer a imigração e colonização de Eretz Yisrael através da
criação de uma colônia agrícola, de base cooperativa social". Afinados
com a ideologia sionista (que até então ainda não havia recebido esse
nome), os Biluim também exortavam o povo judeu ao renascimento
sócio-político, espiritual e nacional na Palestina.
A esperança dos Biluim de sucesso na lavoura era grande, mas seu
entusiasmo era maior do que sua habilidade agrícola. Em apenas um ano os
Biluim já eram dependentes de caridade como os estudantes que os
precederam. Mas os Biluim investiam o dinheiro recebido em terras e
equipamentos, e as doações — vindas tanto de judeus riquíssimos como o
Barão de Rotschild quanto dos "normais" leitores do
The London Jewish Chronicle — permitiram que prosperassem. Suas cidades,
Rishon LeZion e
Zihron Yaakov,
tornaram-se comunidades saudáveis e atraentes. A vitória foi
concomitante ao fato de que já na virada do século XIX os imigrantes
empregavam árabes em suas terras, ao invés de trabalhá-las eles mesmos
(como inicialmente pretendiam). A revolução econômica sionista ainda
estava por vir.
A Segunda Aliá e a fundação dos primeiros kibutzim
Bandeiras mostrando a origem dos fundadores do kibutz Gaash (1951). Em primeiro plano, a bandeira do Brasil.
Os
pogroms surgiram novamente na
Rússia nos primeiros anos do
século XX. Em
1903 em
Kishinev as massas campesinas eram incitadas a agir contra os judeus depois de um massacre que ficou conhecido como o primeiro
Pogrom de Kishinev. Revoltas aconteceram de novo logo após a derrota da Rússia na
Guerra Russo-Japonesa e na
Revolução de 1905. A ocorrência de novos
pogroms
inspiraram a emigração de outra leva de judeus russos. Na década de
1880, a maioria dos emigrantes ia para os Estados Unidos e a minoria,
para a Palestina. Era a geração que incluiria os fundadores dos
kibutzim.
Como os membros da Primeira Aliá que vieram antes deles, a maioria
dos membros da Segunda Aliá queria ser fazendeiro na Palestina. Aqueles
que viriam a fundar os kibutzim dirigiram-se em primeiro lugar a um dos
vilarejos antigos dos Biluim,
Rishon LeZion,
em busca de trabalho. Os fundadores do primeiro kibutz ficaram
moralmente arrasados com o que viram entre os colonos judeus do vilarejo
"com seus supervisores judeus, trabalhadores camponeses árabes e
guardas beduínos." Viram as novas vilas e recordaram-se dos lugares que
haviam deixado no leste europeu. Ao invés do começo de uma comunidade
judaica pura, sentiram que haviam visto a recriação da estrutura
sócio-econômica judaica dos Assentamentos, onde os judeus trabalhavam em
empregos limpos, enquanto outros grupos étnicos faziam o trabalho sujo.
(Gavron, 19)
Joseph Baratz, que viria a fundar o primeiro kibutz, escreveu acerca de sua época de trabalho em
Zihron Yaakov:
Estávamos suficientemente felizes trabalhando na terra, mas
sabíamos com mais certeza que as maneiras dos velhos assentamentos não
eram para nós. Esse não era o modo que esperávamos colonizar o país —
essa velha maneira com judeus em cima e árabes trabalhando para eles;
enfim, pensávamos que não deveria haver empregadores e empregados de
forma alguma. Deve haver um jeito melhor. (Baratz, 52)
Apesar de Joseph Baratz e outros trabalhadores quererem cuidar da
terra eles mesmos, tornar-se fazendeiro independente não era uma opção
realista em 1909. Como
Arthur Ruppin,
um proponente da colonização agrícola judaica da Palestina diria mais
tarde, "A questão não era se o assentamento coletivo era preferencial ao
assentamento individual; era uma das formas de assentamento coletivo ou
nenhum assentamento." (Rayman, 12)
A Palestina
Otomana
era um ambiente duro, que nada se parecia com as planícies russas com
as quais os imigrantes judeus estavam familiarizados. A Galiléia era
pantanosa, os morros rochosos, e o sul do país, o
Negev,
era um deserto. Para tornar as coisas ainda mais desafiadoras, a
maioria dos primeiros colonos da Segunda Aliá não tinha experiência
prévia com agricultura. As condições de saneamento também eram pobres. A
malária era mais que um risco, era praticamente uma garantia. Juntamente com a malária, também havia o
tifo e a
cólera.
Em adição a ter um clima difícil e solo relativamente infértil, a
Palestina Otomana era sob alguns pontos de vista um lugar sem leis.
Beduínos nômades
atacavam frequentemente fazendas e áreas de assentamento. Sabotavam os
canais de irrigação e a queima de colheitas também era comum. Viver em
coletividades era simplesmente a maneira mais lógica para estar seguro
em uma terra que não os desejava.
Acima de considerações de segurança, havia também considerações de sobrevivência
econômica.
Estabelecer uma nova fazenda na área era um projeto de grande capital e
coletivamente os fundadores dos primeiros kibutzim não tinham os
recursos para estabelecer algo que durasse, pelo menos
independentemente.
Finalmente, a terra que ia ser assentada por Joseph Baratz e seus camaradas foi comprada pela grande
comunidade judaica.
De todas as partes do mundo, judeus depositavam moedas em pequenas
"caixas azuis" para a compra de terras na Palestina. Uma vez que esses
esforços foram em nome de todos os judeus da
comunidade judaica, não teria feito sentido a compra de suas terras para interesses individuais.
Em
1909, Joseph Baratz e outros nove homens e duas mulheres estabeleceram-se na porção sul do
Mar da Galiléia
próximo a uma vila árabe chamada "Umm Juni." Esses adolescentes haviam
até então trabalhado como diaristas, drenando pântanos ou como
pedreiros, ou como braçais nos antigos assentamentos judaicos. Seu sonho
agora era de trabalhar para si mesmos, cuidando da terra. Comprando a
gleba de uma família
persa residente em
Beirute, chamaram sua comunidade de "
Degania", em homenagem aos cereais que eles cultivavam ali, pois "
Degania" significa grão. Sua comunidade desenvolver-se-ia como o primeiro kibutz.
Os fundadores de Degania trabalharam duramente tentando espalhar a
revolução social e reconstruir aquela que consideravam sua terra
ancestral. Um pioneiro mais tarde disse: "o corpo está esgotado, as
pernas falham, a cabeça dói, o sol queima e enfraquece." Em alguns
momentos metade dos membros do kibutz não podia se apresentar para
trabalhar. Muitos homens e mulheres jovens deixaram o kibutz para vidas
mais fáceis nas cidades da Palestina judaica ou na
Diáspora.
Apesar das dificuldades, os kibutzim cresceram e proliferaram. Em
1914, Degania tinha cinquenta membros. Outros kibutzim foram fundados ao
redor do Mar da Galiléia e no próximo
Vale de Jizreel. Os fundadores de Degania logo a deixaram para tornarem-se apóstolos de agricultura e socialismo para novos kibutzim.
Os kibutzim durante o Mandato Britânico
As autoridades otomanas tinham tornado a imigração para a Palestina
difícil para os judeus, pois faziam com que a compra de terras fosse
problemática. Isso afetava os
muçulmanos e
cristãos, para além dos judeus. Os otomanos eram também péssimos administradores.
Apesar da mudança de governo na Palestina, os kibutzim e toda a
yishuv
cresceu como resultado do aumento do antissemitismo na Europa. Em
contraste com a previsão antissionista que os judeus tinham feito antes
da I Guerra Mundial, a disseminação de idéias liberais não era
irreversível e a posição de judeus em muitas sociedades da Europa
Central e do Leste realmente se deteriorou.
Os judeus sofreram severamente na
Guerra Polonesa-Soviética e na
Guerra Civil Russa.
Apesar de as mortes serem pouca coisa se comparadas com o derramamento
de sangue da I Guerra Mundial que se seguiu, os pogroms de 1918-1920
realmente fariam os pogroms dos anos 1880 e 1900 parecerem de pequena
monta.
"Os primeiros grandes pogroms aconteceram em Zhitomir e Berdichev, velhos centros judaicos", Walter LaQueur escreveu em seu A History of Zionism (Uma História do Sionismo),
- de onde eles se espalharam para Proskurov (onde 1500 judeus foram
mortos) e arredores. Ao todo, por volta de 15000 judeus foram mortos
nesses ataques e muitos mais feridos. Muitas propriedades dos judeus
foram destruídas. O número de mortes foi muito maior do que nos progroms
pré-guerra. A vida humana havia se tornado sem valor após 1914, e
enquanto que a morte de algumas dúzias de vítimas em Kishinev causou uma
onda de protestos no mundo civilizado, o assassinato de milhares
1919–1920 não causou qualquer movimentação. (LaQueur, 441)
Ao passo que os pogroms após a morte de Alexandre II e os pogroms de Kishinev causaram Aliás
em massa, também o fizeram os pogroms da guerra civil russa. Dezenas de
milhares de judeus russos imigraram para a Palestina no começo dos anos
1920, em uma onda chamada de "Terceira Aliá".
Após a consolidação de poder
Bolchevique,
os judeus da Rússia e Ucrânia foram assegurados de sua integridade
física, apesar de que nenhum deles pudesse emigrar. No resto dos anos
1920
judeus imigrantes para a Palestina viriam de todo o resto da Europa
Central e Oriental, sendo essa a origem de grande parte do judeus da
"Quarta Aliá". Esses imigrantes da Terceira e Quarta Aliá de fato fariam
mais pelo crescimento do movimento kibutz que os imigrantes de grupos
prévios.
Os três milhões de judeus da
Polônia sofreram como resultado de
boicotes
em massa de seus negócios, como exemplo o número de judeus praticando
medicina e direito foi deliberadamente reduzido pelas entidades
oficiais. Em 1930, antes que a Grande Depressão tivesse sequer chegado,
um terço da comunidade judaica da Polônia era incapaz de pagar impostos
específicos para a comunidade judaica. O governo polonês geralmente
mantinha a justiça e a ordem, mas mesmo assim havia muitos pogroms.
Em outros países, o antissemitismo institucional não foi tão alijante
quanto foi na Polônia ou Romênia, apesar de haver um generalizado e
virulento antissemitismo.
Parcialmente baseado nos movimentos juvenis alemães e nos
Escoteiros,
movimentos juvenis sionistas judaicos floresceram nos anos 1920 em
virtualmente todas as nações européias. Movimentos juvenis vieram em
cada sombra do espectro político. Haviam movimentos direitistas como o
Betar
e movimentos religiosos como o Bachad, mas a maioria desses movimentos
juvenis sionistas eram socialistas como Dror, Brit Haolim,
Kadima,
Habonim e Wekleute. Dos movimentos juvenis esquerdistas o mais significante na história dos kibutzim foi o marxista
Hashomer Hatzair. Nos anos 1920 os movimentos juvenis com orientação de esquerda tornar-se-iam alimentadores dos kibutzim.
Em contraste com aqueles que vieram como parte da Segunda Aliá, esses
membros de grupos juvenis tinham algum treinamento em agricultura antes
de embarcarem. Ao contrário dos membros da Segunda e da Terceira Aliá,
esses também tinham menos chance de serem russos, uma vez que a
emigração da Rússia estava bloqueada após a
Revolução Russa de 1917.
Os judeus europeus que se assentaram em kibutzim entre as Guerras
Mundiais eram de outros países na Europa Oriental, incluindo a
Alemanha.
Finalmente, os membros da Terceira Aliá estavam à esquerda dos
fundadores de Degania, e acreditavam que o voluntarismo socialista
poderia funcionar para qualquer um. Eles se consideravam um movimento
vanguardista que inspiraria o resto do mundo.
Degania nos anos 1910 parece ter confinado suas discussões para
assuntos práticos, mas as conversações da próxima geração nos anos 1920 e
30 eram discussões abertas do cosmos. Ao invés de haver reuniões em uma
sala de jantar, reuniões aconteciam ao redor de fogueiras. Ao invés de
começar uma reunião com uma leitura de minutos, uma reunião começaria
com uma dança grupal. Relembrando sua juventude em um kibutz às margens
do Mar da Galiléia, uma mulher recordou "Ó, que lindo que era quando
todos participávamos das discussões, [eram] noites de busca de um pelo
outro - é assim que chamo aquelas noites santificadas. Durante os
momentos de silêncio, me parecia que de cada coração uma faísca
saltaria, e as faíscas se uniriam em uma grande chama penetrando os
céus... Ao centro de nosso acampamento uma fogueira queima, e sob o peso
da Hora a terra geme um gemido rítmico, acompanhado por músicas
excitantes." (Gavron, 45)
Os kibutzim fundados nos anos 1920 tinham a tendência de serem
maiores que os kibutzim como Degania que foram fundados antes da I
Guerra Mundial. Degania tinha doze membros em sua fundação. Ein Harod,
fundado apenas dez anos depois, começou com 215 membros.
Concomitantemente, os kibutzim cresceram e floresceram nos anos 1920.
Em 1922 eles eram meros 700 indivíduos vivendo em kibutzim na
Palestina. Em 1927 a população do kibutz estava se aproximando dos
4.000. Ao final da
II Guerra Mundial a população de kibutz era de 25.000, cinco por cento de toda a população da
yishuv.
O crescimento dos kibutzim permitiu ao movimento diversificar-se em
diferente facções, apesar de as diferenças entre os kibutzim serem
sempre menores do que suas similaridades. Em 1927, alguns novos kibutzim
fundados pelo
HaShomer Hatzair uniram-se para formar uma associação de alcance nacional,
Kibutz Artzi. Por décadas, Kibutz Artzi seria a esquerda dos kibutzim. Em
1936, a Federação do Kibutz Artzi fundou seu próprio partido político chamado a
Liga Socialista da Palestina mas popularmente conhecida como
Hashomer Hatzair. Fundiu-se com outro partido de esquerda para se tornar
Mapam(o atual
Meretz) tão logo que o Estado de Israel ter-se estabelecido.
Os kibutzim da Artzi eram mais devotados à
igualdade dos sexos que outros kibutzim. Uma mulher de um kibutz da era dos anos 1920, 1930 chamaria seu marido
ishi — "Meu homem" — ao invés da palavra usual hebraica,
ba'ali, que literalmente significa "Meu mestre".
Em 1928, o kibutz Degania e outros pequenos kibutzim formaram juntos o
grupo chamado "Chever Hakvutzot", a "Associação de Kvutzot". Os
kibutzim do Kvutzot deliberadamente ficaram abaixo de 200 em população.
Eles acreditavam que para a vida coletiva funcionar, os grupos deveriam
ser pequenos e íntimos, ou então a confiança entre os membros seria
perdida. Os kibutzim do Kvutzot também abriram mão de afiliações com
movimentos juvenis na Europa.
A corrente principal do movimento kibutz ficou conhecida simplesmente como "Kibutz Unido", ou "Kibutz Hameuhad".
Kibutz Hameuhad acusou Artzi e o Kvutzot de elitismo. Hameuhad
criticaram Artzi por pensar em si mesmo como uma elite socialista, e
eles criticaram o Kvutzot por permanecerem pequenos. Os kibutzim do
Hameuhad abrigaram quantos membros eles podiam. Givat Brenner
consequentemente chegou a ter mais de 1.500 membros.
Também havia diferenças na religião. Os kibutzim do Kibutz Artzi eram
seculares, mesmo firmemente
ateus, orgulhosamente tentando ser "monastérios sem Deus". A maioria dos kibutzim da corrente principal também desdenhavam o
Judaísmo Ortodoxo
de seus pais, mas eles queriam que suas novas comunidades tivessem
características judaicas mesmo assim. As noites de Sexta-feira ainda
eram "
Shabat"
com um pano de mesa branco e comida de qualidade, e trabalho não era
feito aos sábados se pudesse ser evitado. Mais tarde, alguns kibutzim
adotaram o
Yom Kipur como o dia para discutir receios em relação ao futuro do kibutz. Os kibutzim também tinham
bar mitzvás coletivos para suas crianças.
Embora os
kibutzniks não rezassem diversas vezes ao dia, marcavam festividades como
Shavuot,
Sucot e
Pessach com danças, banquetes e celebrações. Um feriado judaico,
Tu B'shvat,
o "aniversário das árvores" era substancialmente revivido por kibutzim.
Em todos eles, feriados com algum componente natural, como Pessach e
Sucot, eram os mais importantes para os kibutzim.
O movimento kibutz desenvolveu uma facção ultra-religiosa tardiamente em sua história, um grupo hoje chamado
Kibutz Dati. O primeiro kibutz religioso foi Ein Tzurim, fundado em 1946. Ein Tzurim era localizado primeiro próximo a
Safed, depois próximo a
Hebron, no que agora é chamado de
Cisjordânia, e por fim no
Negev.
Kibutzim religiosos são obviamente religiosos, mas eles eram e são
igualmente coletivistas como os kibutzim seculares. Alguns kibutzim
religiosos agora se identificam com o "
Hassidismo hippie" de rabinos como
Shlomo Carlebach.
Os kibutzim na construção do estado israelense
No período Otomano a principal preocupação dos Kibutzim era a
violência criminal e não a violência política. Dado o pequeno número de
judeus no país naquela época, a hostilidade árabe era residual, situação
que se alterou após a Declaração de Balfour. Esta originou uma nova
onda de judeus em direcção à Palestina, o que desequilibrou o balanço
demográfico da região originando protestos sangrentos anti-judaicos em
Jerusalém em 1921 e em Hebron em 1929. No final dos anos 1930, a
violência árabe-judaica tornou-se permanente, levando a que esse período
fosse chamado de "Época do
Grande Levante" na historiografia palestina.
Durante o Grande Levante, os kibutz começaram a assumir um papel
militar mais previdente do que eles tinham anteriormente. Armas foram
compradas ou fabricadas e mais membros de kibutz executavam manobras e
exercícios militares para além de praticarem tiro.
Yigal Allon, um soldado israelense e político explicou o papel dos kibutzim nas atividades militares da yishuv.
- O planejamento de desenvolvimento de assentamentos sionistas
pioneiros foram desde o início pelo menos parcialmente determinados por
necessidades político-estratégicas. A escolha da localização do
assentamento, por exemplo, era influenciada não apenas por considerações
de viabilidade econômica mas também e sobretudo pelas necessidades de
defesa local, estratégia de assentamento global, e pelo papel que tais
blocos de assentamento poderiam desempenhar em algum futuro, talvez
decisivo em qualquer confronto. Dessa forma, terra era comprada, ou
muitas vezes melhorada, em partes remotas do país. (citação em Rayman, 27-8)
Os kibutzim também ajudaram a definir as fronteiras do futuro estado de Israel. No final dos
anos 1930,
quando a Palestina estava prestes a ser dividida entre árabes e judeus,
foram criados kibutzim em locais remotos para aumentar as chances da
terra ser incorporada a Israel e não a um estado palestino. Muitos deles
foram feitos, literalmente, da noite para o dia. Em 1946, um dia depois
do
Yom Kipur, doze novos kibutzim precários foram feitos às pressas no norte do
Deserto de Negev para reclamar essa área seca, mas estratégica, para Israel.
Nem todos os habitantes do kibutzim procuraram expandir o território do futuro estado judeu. A facção esquerdista e
marxista
do movimento Kibutz, Kibutz Artzi, foi a última grande força entre os
yishuv a favor de um estado binacional, e contra a divisão. O Kibbutz
Artzi, entretanto, ainda queria a livre
imigração judaica, à qual os árabes se opunham.
Considera-se que os membros kibutzianos - os kibutzniks - lutaram bravamente na
Guerra Árabe-Israeli de 1948,
emergindo do conflito com ainda mais prestígio, no nascente Estado de
Israel. Membros do Kibutz Degania foram fundamentais em brecar o avanço
de tanques da
Síria para dentro da Galiléia com
bombas de gasolina caseiras. Outro kibutz, Maagan Michael, produziram as balas para as
metralhadoras Stern que venceram a guerra. Mais tarde a fábrica de
munição clandestina de Maagan Michael foi separada do kibutz e evoluiu para tornar-se a TAAS (
Indústria Militar Israelense).
Os kibutzim em um Israel independente
O estabelecimento de Israel e uma onda de refugiados judeus vindos da
Europa e do mundo muçulmano apresentaram desafios e oportunidades para
os kibutzim. A onda de imigrantes deu aos kibutzim uma oportunidade de
se expandirem através de novos membros e com mão-de-obra barata, mas
também significava que os kibutzim
ashkenazi teriam que se adaptar aos judeus cujas raízes eram muito diferentes das suas.
Sobre
Ideologia do movimento kibutz
Os membros da Primeira Aliá eram religiosos, mas os membros da
Segunda Aliá, dos quais os fundadores de Degania eram uma pequena
subseção, não eram. Apesar de que eles estavam se assentando na terra da
Bíblia, esses jovens eram o tipo que frequentava a
sinagoga.
Em suas mentes, o judaísmo ortodoxo era um empecilho ao povo judeu. O
espiritualismo dos pioneiros do movimento kibutz consistiam de
sentimentos místicos sobre trabalho judaico, articulados por sionistas
como
Berl Katznelson, que disse, "onde quer que o trabalhador judeu vai, a divina presença vai com ele." (Segev, 55)
Em adição à redenção da nação judaica através do trabalho, também
havia um elemento de redenção de Eretz Yisrael, Palestina, na ideologia
do kibutz. Na literatura anti-sionista que circulava pela Europa
Oriental, Palestina foi ridicularizada como "dos gepeigerte land"—"o
país que morreu". Os membros do kibutz tinham prazer em trazer a terra
de volta à vida plantando árvores, drenando pântanos e incontáveis
outras atividades que fizeram com que a terra ficasse mais fértil.
Quando solicitando doações, os kibutzim e outras atividades de
assentamento sionistas apresentavam a si mesmas como "fazendo o deserto
florescer".
A maioria dos kibutzim foram realmente fundados em terra livre, mas
muitos foram fundados em terra que já eram cultivadas de muito antes. A
terra na qual o Degania foi estabelecido havia sido previamente ocupado
por fazendeiros árabes, que foram despejados quando a terra foi comprada
de donos de terras ausentes por uma agência de assentamento sionista.
Nem todos os kibutzim foram fundados em desertos, também: muitos o foram
na
Galiléia, uma região com muitos córregos e nascentes que recebem até quarenta polegadas de chuva por ano.
Membros de um kibutz, ou
kibutzniks, como outros participantes
no movimento sionista, não predisseram que não haveria conflito entre
judeus e árabes sobre a Palestina. A maioria dos sionistas predisse que
os árabes estariam agradecidos pelos benefícios econômicos que os judeus
trariam. A ala esquerda do movimento kibutz acreditava que os inimigos
dos camponeses árabes eram os donos de terra árabes (chamados
efendis), não fazendeiros companheiros judeus. Ao final dos
anos 1930,
a realidade atravessou essas noções de solidariedade de classe os
kibutzniks começaram a assumir um papel militar no crescente
yishuv (a comunidade judaica na Palestina).
Os primeiros kibutzniks esperaram ser mais que fazendeiros comuns na
Palestina. Eles inclusive esperavam mais quem uma pátria judaica lá:
eles queria criar um novo tipo de
sociedade
onde não haveria exploração de ninguém e onde todos seriam iguais. Os
primeiros kibutzniks queriam ser tanto livres de trabalhar para outros
quanto da exploração de trabalho contratado. Assim nasceu a ideia que
judeus se juntariam, administrando sua propriedade em comum, "de cada
um, de acordo com sua habilidade, para cada um, de acordo com suas
necessidades."
Os membros do kibutz não eram
marxistas
ortodoxos. Marxistas não acreditavam em nações, e kibutzniks, como
sionistas, claramente sim. Marxistas tradicionais eram hostis ao
sionismo, mesmo suas manifestações
comunistas. Em sequência ao
Complô dos médicos e a denúncia de
1956 das atrocidades de
Stalin por
Nikita Khrushechev em seu
Discurso Secreto,
muitos dos comunistas linha-dura de kibutz remanescentes rejeitaram o
comunismo. Contudo, até os dias de hoje muitos kibutzim permanecem um
foco de resistência de ideologia de esquerda entre os judeus de Israel.
Ainda que os próprios kibbutzniks tenham praticado o comunismo, eles
não acreditam que o mesmo funcionaria para todas as pessoas. Os
partidos políticos
do Kibbutz nunca pregaram a abolição da propriedade privada.
Kibbutzniks viam os kibbutzim como empresas coletivas dentro de um
sistema capitalista. Além disso, kibbutzim são
democráticos,
conduzindo eleições periódicas para os cargos no Kibbutz, sendo
governados democraticamente e participando de maneira ativa nas eleições
nacionais. Kibbutzniks, no geral, acreditam no processo político
democrático e nunca pregaram uma "
ditadura do proletariado".
Deve ser notado que os kibutzim não eram as únicas empreitadas
comunais em Israel. Israel pré-estado também viu o desenvolvimento de
vilas comunais chamadas
moshavim (singular:
moshav).
Em um moshav, comercialização e grandes compras agrícolas eram feitas
coletivamente, mas as vidas pessoais eram inteiramente privadas. Apesar
de menos famosos que os kibutzim, moshavim sempre foram mais numerosos e
populares que kibutzim.
Vida comunal
O princípio de igualdade era levado extremamente a sério até o final da
década de 1970.
Os Kibutzniks, individualmente, não possuíam
animais, ferramentas ou mesmo
roupas.
As prendas e os proveitos recebidos do exterior eram entregues à
Tesouraria da Comunidade. Se um membro do Kibutz recebe-se uma prenda
numa qualquer ida ao exterior, como p.ex. a visita a um familiar
dentista
ou um passeio custeado por um parente, haveria uma discussão nos
encontros ao serão acerca da propriedade da prenda ou do acto de
aceitá-la.
A chegada de crianças a um Kibutz recém-criado apresentava alguns
problemas. Se tudo era partilhado igualmente pelos Kibutzniks, quem
ficaria responsável pelas crianças? A resposta a esta questão era dada
atribuindo a responsabilidade das crianças a todos, ao ponto das
mães amamentarem crianças que não eram suas. Em geral, a chegada de crianças dos kibutzim era uma experiência inesquecível.
"Quando vimos nossas primeiras crianças no quintal, se batendo, ou
agarrando os brinquedos apenas para si mesmas, éramos tomados de
ansiedade. Isso significava que mesmo uma
educação
em uma vida comunal não poderia evitar essas tendências egoístas? A
utopia da nossa concepção social inicial era destruída aos poucos."
(Segev, 254) Ainda mais que os kibutzim sempre tiveram uma
taxa de natalidade muito baixa.
Na
década de 1920
os kibutzim começaram a prática de criar as crianças comunalmente longe
de seus pais em comunidades especiais chamadas "Sociedades das
Crianças" (
Mossad Hinuchi). A teoria era que
enfermeiras treinadas e
professores
seriam melhores provedores de cuidados que pais amadores. Crianças e
parentes teriam melhor relações de acordo com as Sociedades das
Crianças, uma vez que os pais não teriam que ser
disciplinadores, e não haveria um
Complexo de Édipo.
Também, se esperava que criar as crianças longe de seus pais liberaria
as mães de sua "tragédia biológica". Ao invés de gastar horas em um dia
criando filhos, as mulheres poderiam então estar livres para trabalhar
ou aproveitar o
lazer.
Há muito o que se falar sobre o papel das mulheres nos kibutzim. No
início havia sempre mais homens que mulheres nos kibutzim, então
naturalmente os kibutzim tendiam a ser um lugar dominado pelos homens.
Memórias da vida do início do kibutz tendem a mostrar mulheres kibutniks
desesperadas para realizar o mesmo tipo de papel que os homens do
kibutz, de escavar em pedras a plantar
árvores.
Em Degania, pelo menos, parece que os homens queriam que as mulheres
continuassem a realizar papéis femininos tradicionais, como
cozinhar, costurar e limpar.
Com o tempo, os homens do kibutz cederam e permitiram, mesmo
esperaram, que as mulheres tivessem os mesmos papéis que os homens,
incluindo segurança. O desejo de liberar as mulheres de deveres
maternais tradicionais são outro apoio ideológico do sistema de
Sociedade das Crianças. Interessantemente, mulheres nascidas em kibutz
eram muito menos relutantes para realizar papéis tradicionais femininos.
Foi a geração de mulheres nascidas que finalmente encerrou a as
Sociedades das Crianças. Também, apesar de haver uma "masculinização das
mulheres", não havia uma feminilização correspondente dos homens. As
mulheres podem ter trabalhado nos campos, mas os homens não cuidaram de
crianças.
Vidas sociais aconteciam em comum também, não apenas a propriedade.
Como um exemplo, a maioria dos refeitórios de kibutz tinham
exclusivamente bancos. Não era apenas uma questão de custo ou
conveniência, mas os bancos eram considerados como uma forma de
expressar valores comunais. Em alguns kibutzim maridos e esposas foram
desencorajados de sentarem-se juntos, uma vez que o casamento era uma
espécie de exclusividade. Em The Kibbutz Community and Nation Building,
Paula Rayman relata que o Kibutz Har se recusou a comprar chaleiras
para seus membros na década de 1950. Não porque as chaleiras eram caras,
era porque os casais tendo suas próprias chaleiras teria significado
que as pessoas passariam mais tempo em apartamentos, ao invés do
refeitório comunal.
A vida comunal era naturalmente difícil para as pessoas. Cada kibutz
via novos membros se desligando após alguns anos. Uma vez que os
kibutzniks não tinham conta bancária individual, qualquer compra que não
podia ser feita na cantina do kibutz tinha que ser aprovada por um
comitê, uma experiência potencialmente humiliante. Os kibutzim também
tinham sua parcela de membros que não gostavam de trabalho duro, ou que
abusavam da propriedade comum; havia sempre ressentimento contra esses
"parasitas". E, finalmente, os kibutzim, como comunidades pequenas e
isoladas, tendiam a ser lugares de fofoca.
Apesar das decisões principais sobre o futuro do kibutz serem feitas
por consenso ou por votação, decisões do dia-a-dia sobre onde as pessoas
trabalhariam eram feitas por líderes eleitos. Usualmente, os kibutzniks
sabiam de suas obrigações lendo uma folha de obrigações.
As memórias do kibutz da era pioneira relatam que as reuniões do
kibutz eram discussões acaloradas ou filosóficas de livre pensamento.
Observadores dos kibutz de memórias e registros dos anos 1950 e 1960
relatam que as reuniões de kibutz eram parecidas com as de negócios e
pouco freqüentadas.
Os kibutzim tentaram fazer um rodízio de pessoas em diferentes
trabalhos. Uma semana a pessoa poderia trabalhar com plantação, na
semana seguinte com gado, a semana seguinte na fábrica do kibutz, na
semana seguinte na lavanderia. Mesmo diretores teriam que trabalhar em
serviços braçais. A rotação era boa no sentido de que todos dividiam
todos os tipos de trabalho, mas era nocivo no sentido de impedir que as
pessoas se especializassem.
As Sociedades das Crianças era uma das características da vida do
kibutz que mais interessava aos forasteiros. Nos bons tempos das
Sociedades das Crianças, os pais passavam duas horas por dia,
tipicamente à tarde, com suas crianças. No Kibutz Artzi, pais eram
explicitamente proibidos de colocar seus filhos na cama à noite. Quando
as crianças cresciam, os pais iriam algumas vezes por dias sem ver seu
rebento, exceto por encontros casuais nos territórios do kibutz.
Algumas crianças que passaram pelas Sociedades das Crianças disseram
ter amado a experiência, outros são ambivalentes, mas um grupo vocal diz
que crescer sem seus pais foi muito difícil. Anos depois, um membro do
kibutz descreveu sua infância em uma Sociedade das Crianças:
- Permitidos de amamentar a cada quatro horas, deixados a chorar e
desenvolver nossos pulmões, crescemos sem a segurança básica necessária
para sobrevivência. Sentando no penico em intervalos regulares junto a
outras crianças fazendo o mesmo, fomos educados a ser o mesmo; mas nós
éramos, para tudo isso, diferentes…. À noite os adultos saíam e
desligavam todas as luzes. Você sabia que molharia a cama porque é muito
assustador ir ao lavatório. (Gavron, 168)
Aversão ao sexo não era parte da ideologia do kibutz, na verdade,
meninos e meninas na juventude não eram segregados à noite nas
Sociedades das Crianças, ainda que muitos visitantes de kibutzim ficavam
impressionados em quão conservadores as comunidades tendiam a ser. Em Children of the Dream,
Bruno Bettelheim citou um amigo de kibutz, "em um momento quando as
garotas norte-americanas maquiavam-se, e tentavam se exibir o máximo
possível sexualmente, nossas garotas se cobriam e se recusavam a usar
roupas que poderiam mostrar seus seios ou de qualquer outra forma que
fosse reveladora." As taxas de divórcio de kibutz eram extremamente
baixas. (Bettelheim, 243)
Kibbutzim sempre foram locais de muita cultura. Muitos kibbutzniks
foram e são escritores, atores ou artistas. Kibbutzim possuem companhias
de
teatro, corais, orquestras e ligas atléticas. Em
1953, Givat Brenner encenou a peça
Meus Gloriosos Irmãos, sobre a revolta dos
macabeus,
construindo, como cenário, um vilarejo real sobre uma colina, plantando
árvores de verdade e se apresentando para 40 mil pessoas. Como todos os
produtos de trabalho do kibbutz na época, todos os atores eram membros
do kibbutz, e todos deviam encenar a peça como parte de suas tarefas.
Aspectos psicológicos
Na era independente de Israel, os kibutzim atraíram o interesse de
sociólogos e psicólogos que tentavam responder à pergunta: Quais eram o
efeitos de uma vida sendo criado à parte de seus pais?
Dois pesquisadores que escreveram sobre a vida psicológica nos kibutzim foram
Melford E. Spiro (
1958) e
Bruno Bettelheim (
1969).
Ambos concluíram que uma criação no kibutz levava os indivíduos a terem
maior dificuldade em manter compromissos emocionais fortes mais para a
frente, como se
apaixonar
ou formar uma amizade duradoura. Por outro lado, aparentemente eles
acham mais fácil ter um grande número de amigos sem grande envolvimento
emocional e uma
vida social mais ativa.
Bettelheim sugeriu que a falta de propriedade privada foi a causa de falta de
emoções
em kibutzniks. Ele escreveu, "em nenhum lugar mais que o kibutz eu me
dei conta que o nível de propriedade privada, nas partes mais profundas
da mente, se relacionam com emoções privadas. Se uma é ausente, a outra
tende a ser ausente também". (Ver
primitivismo e
comunismo primitivo para uma discussão geral desses conceitos).
Outros pesquisadores chegaram à conclusão que crianças crescendo
nessas comunidades hermeticamente fechadas tendiam a ver as outras
crianças ao seu redor como
irmãos
de criação e preferiam procurar pares fora da comunidade alcançavam a
maturidade. Alguns teorizam que viver em meio aos outros diaramente
virtualmente desde o nascimento produziu uma versão extrema do
efeito Westermarck, que subconscientemente diminuiu a
atração sexual
dos kibutzniks uns pelos outros. Parcialmente como um resultado de não
encontrar um par dentro do próprio kibutz, os jovens acabavam
abandonando o kibutz quando adultos com frequência.
É um objeto de discussão dentro do movimento kibutz se a educação de
kibutz teve sucesso em desenvolver os talentos de crianças superdotadas.
Muitas crianças crescidas em kibutz relembram e dizem que o sistema
comunal castrava a ambição; outros dizem que as crianças brilhantes não
eram encorajadas nem um pouco. Bruno Bettelheim previu que a educação de
kibutz cairia em mediocridade: "[crianças de kibutz] não serão líderes
ou filósofos, não alcançarão nada em ciência ou arte".
A predição de Bettelheim foi certamente errada sobre as crianças que
ele encontrou especificamente no "Kibutz Atid". Nos anos 1990, uma
jornalista rastreou as crianças que Bettelheim entrevistou nos anos
1960
no que era de fato o Kibutz Ramat Yohanan. O jornalista descobriu que
as crianças tinham tido um grande sucesso na academia, negócios, música e
exército. "Bettelheim errou feio". (Gavron, 166)
O kibutz e o desenvolvimento das crianças
Apesar de relatos de jornalistas individuais ou repórteres, existe
uma grande estrutura de pesquisa empírica lidando com o desenvolvimento
das crianças nos kibutzim. Esse tipo de pesquisa tem sido crítica em
relação à maneira que as crianças são criadas em um Kibutz.
Em um estudo de
1977,
Fox comparou os efeitos da separação vivida por crianças de kibutz
quando removidas de suas mães, comparado com a remoção de seus
metapelet
(Aqueles que cuidam das crianças em Kibutzim israelenses são chamados
de metapelet). Ele descobriu que a criança demonstrava perturbação na
separação em ambas as situações, mas quando reunidas crianças eram
significativamente mais ligadas às suas
mães
do que ao metapelet. As crianças protestavam em relação à uma separação
subsequente de suas mães quando o metapelet era reapresentado a elas.
Contudo, as crianças dos kibutzim tinham em comum grande ligação com
seus pais se comparado com aquelas que eram mandadas para os
internatos, porque em um kibutz a criança passa três horas todos os dias com seus pais.
Em um outro estudo feito por Scharf (
2001) o grupo criado em ambiente
comunal
em kibutzim mostrava menor habilidade em lidar com situações
imaginárias de separação do que aquelas que foram criadas com suas
famílias. Isso tem implicações maiores para adaptabilidade de laços infantis e consequentemente instituições como os kibutzim.
A economia do kibutz
Os kibutzim em seus primeiros dias tentaram ser auto-suficientes em todos os produtos agrícolas, dos
ovos aos laticínios, das frutas às
carnes. Durante a experiência, os kibutzniks descobriram que a auto-suficiência era impossível.
Os kibutzniks também não eram auto-suficientes em se tratando de
investimento de capital. Na fundação de um kibutz, quando ele seria
aberto em uma terra pertencente ao
Fundo Nacional Judaico;
para expansão, a maior parte dos kibutzim eram dependentes de subsídios
de caridade ou do Estado de Israel. A maioria dos subsídios tomaram
forma de empréstimos com baixas taxas de juros ou água com desconto. Em
Israel, quando taxas de juros estavam rotineiramente na casa dos 30 por
cento até os anos 1990 e onde a água é cara, esses presentes vinham
certamente de bom tamanho.
Mesmo antes do estabelecimento do
Estado de Israel, os kibutzim começaram a passar da
agricultura para a
manufatura. O Kibutz Degania que, por exemplo, construiu uma fábrica para produzir ferramentas para o corte de
diamantes, agora fatura muitos milhões de dólares por ano. O Kibutz Hatzerim tem uma fábrica para equipamentos de
irrigação por gotejamento
(uma técnica inventada no kibutz). A empresa de Hatzerim, chamada
Netafim, é uma corporação multinacional que fatura mais de 300 milhões
de dólares por ano. Maagan Michael deixou de fazer balas para armas de
fogo para fazer ferramentas médicas e
plástico.
Os empreendimentos de Maagan Michael fazem mais de 100 milhões de
dólares por ano. Uma grande onda de industrialização de kibutz aconteceu
na década de 1960 e hoje apenas 15 por cento de membros de kibutz
trabalham em agricultura.
Os kibutzim se industrializaram em uma época que os empregos
agrícolas não eram suficientes para absorver todos no kibutz. Os
kibutizm também se industrializaram devido à pressão do Estado de
Israel. Ao longo das décadas de 1950 e 1960 Israel tinha um dos maiores
déficits comerciais do mundo, e estado estava desesperado para aumentar suas exportações e se pediu que os kibutzim fizessem sua parte.
A contratação de trabalhadores temporários sempre foi um ponto de
controvérsia no movimento kibutz. Durante a época da colheita, quando
mãos eram necessárias, a contratação de alguém era permitida? A maioria
dos kibutzim se comprometeram com exigências práticas e começaram a
prática de contratar pessoas fora dos kibutzim quando o trabalho estava
na época de pico.
Empregar não-judeus era especialmente polêmico. Os fundadores do
movimento kibutz queriam redimir a nação judaica através do trabalho, e
contratar não-judeus para fazer o serviço pesado não seria consistente
com essa idéia. Na
década de 1910, o Kibutz Degania em vão procurou por pedreiros para construir suas casas. Apenas quando eles não poderiam encontrar
pedreiros dispostos a enfrentar a
malária de seus locais eles contratavam
árabes.
Hoje, os kibutzim mudaram dramaticamente. Apenas 38 por cento de funcionários de kibutz são membros do kibutz. Nos
anos 1970, os kibutzim freqüentemente contrataram
palestinos. Atualmente,
tailandêses
substituíram os palestinos como mão-de-obra braçal não-judia nos
kibutzim. Eles são onipresentes em várias áreas de serviço e em
fábricas.
Uma vez que os kibutzim se converteram para a manufatura nos anos 1960, eles estão se convertendo para o
turismo
e serviços hoje. O Kibutz Hatzerim inclusive tem um escritório de
advocacia. Virtualmente todos os kibutz tem quartos de hóspedes para
aluguel. Alguns desses quartos são espartanos e são direcionados para
estudantes que viajam, mas o
Kibutz Kiryat Anavim
tem um hotel de luxo com vista. Muitos kibutzim, como o Kibutz Lotan e
Kfar Rupin, operam pacotes de férias para observação de pássaros. Eles
dizem que um visitante europeu pode ver mais pássaros em uma semana em
Israel do que ele ou ela veria em um ano em casa. Não é estranho ao
movimento kibutz moderno que os kibutzniks de hoje estejam trabalhando
em ocupações que a primeira geração de kibutz condenou.
Ao contrário das previsões da economia clássica, nos kibutzim não faltava
empreendedorismo. Muitos kibutizim agressivamente colocavam dinheiro em estruturação de novos negócios, incluindo investimentos na
bolsa de valores. Esta festança de empréstimo alcançou o movimento kibutz na
década de 1980,
forçando os kibutzim a recuar de idéias coletivistas. Hoje, a maior
parte dos kibutzim vivem no ponto de equilíbrio, algo em torno de uma
dúzia são muito ricos e muitos só perdem dinheiro.
Hoje, muitas pessoas que vivem nos kibutzim têm de trabalhar fora do
kibutz. Se espera deles que devolvam uma porcentagem de seu ganho para a
coletividade. Um kibutz
urbano, o Kibutz Tamuz, não tem empresas; todos os seus membro trabalham no setor fora do kibutz.
Futuro
Declínio do movimento kibutz
Os kibutzim foram gradualmente e estavelmente se tornando menos
coletivistas nos últimos vinte anos. Ao invés do princípio de "de cada
um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com sua
necessidade", os kibutzim adotaram "de cada um de acordo com suas
preferências, para cada um de acordo com suas necessidades".
As primeiras mudanças a serem feitas foram nos utensílios e no refeitório. Quando a
eletricidade era "gratuita" os kibutzniks não tinham incentivo para poupar energia. As pessoas deixavam o
ar condicionado
ligado constantemente. Nos anos 1980, os kibutzim começaram a medir o
uso de energia. Tendo os kibutzniks que pagar pelo uso de energia,
requeria que eles de fato tivessem dinheiro pessoal. Assim houve o
retorno de contas pessoais.
O refeitório também foi uma das primeiras coisas a mudar. Quando a
comida era "gratuita", as pessoas não tinham incentivo para pegar o
montante apropriado. Cada refeitório de kibutz terminaria a noite com
quantias enormes de comida a mais; geralmente essa comida era dada aos
animais. Agora, 75 por cento dos refeitórios de kibutz são pagos
conforme o consumo em lanchonetes a la carte.
Os kibutzniks vêem seus vizinhos mais que a maioria dos outros
israelenses, mas ele começaram a viver vidas privadas. Muitos
refeitórios de kibutz não estão mais abertos para três refeições ao dia.
As famílias de kibutz têm aparelhos de
DVD e
internet
assim como outras famílias de israelenses. Atividades coletivas são
muito menos freqüentes do que eram no passado. Ao invés de discussões
que duravam a noite toda sobre questões cósmicas, as reuniões gerais do
kibutz são agora marcadas sem uma freqüência regular.
Talvez o exemplo mais dramático de como os kibutzim abandonaram o
princípio de igualdade é a implementação de salários diferenciados. Um
gerente de fábrica agora receberia um montante pessoal maior que um
operário de fábrica, ou um trabalhador rural.
Nos anos 1970 praticamente todos os kibutzim abandonaram as
Sociedades de Crianças em favor de um núcleo familiar. As razões eram
muitas. Alguns kibutzim acreditavam que a vida comunal para a criança
levava a problemas psicológicos; alguns diziam que desistir da própria
criança era um sacrifício muito grande para os pais. As crianças mesmas
disseram que se lembram de estarem com medo à noite no escuro, longe de
seus pais.
Apesar de que os kibutzim abandonaram as Sociedades das Crianças, as
crianças dos kibutz não crescem como seus pares de fora do kibutz.
Muitos kibutzim dão às crianças seu próprio apartamento quando chegam
aos dezesseis anos de idade. Outros kibutzim ainda possuem Sociedades
das Crianças para jovens que tem mais que doze anos.
Desde o final dos anos 1970, os kibutzim perderam prestígio aos olhos
dos israelenses de fora deles. A imagem do kibutznik foi de pioneiro,
de auto-sacrifício, e guardião das fronteiras do estado para uma de
consumidor alternativo, idealista e subsidiado.
Existem várias causas para a perda do prestígio. Uma razão é que as
populações Mizrahi de Israel e religiosos se tornaram maiores e mais
assertivas. Por várias razões, os kibutzim nunca atraíram um grande
número de judeus não-ashkenazitas. Nos anos 1980, quando virtualmente
qualquer outra instituição de Israel estava inteiramente integrada entre
Ashkenazim e Mizrahim, os kibutzim permaneceram como bastiões
ashkenazitas. Os kibutzim, sendo praticamente todos seculares, também
tornaram-se menos respeitados enquanto Israel tornou-se mais religioso.
Nessa época, os kibutzim não tinham a permissão de participar da
absorção de
judeus etíopes, uma vez que havia o temor que o secularismo dos kibutzim influenciaria a religiosidade dos imigrantes etíopes.
A industrialização do kibutz nos anos 1960 levou a um aumento no
padrão de vida
do kibutz, mas essa melhoria no padrão de vida significava um final ao
auto-sacrifício que o israelense normal tanto havia admirado. Em sua
campanha de 1977 para primeiro-ministro,
Menachem Begin atacou kibutzniks como "milionários com piscinas" e foi premiado com a primeira vitória de todos os tempos da direita.
Finalmente, a necessidade de ajuda financeira do governo feriu a
imagem do kibutz. Nos anos 1970 e início dos 80, Israel experienciou
hiperinflação
- até 400 porcento ao ano. Durante esse período, os kibutzim
emprestaram excessivamente com a expectativa que a inflação eliminaria
virtualmente suas dívidas. Quando o governo israelense implementou um
programa de austeridade que abaixou a inflação para 20 porcento ao ano,
os kibutzim foram deixados com bilhões em dívidas que eles não poderiam
pagar. O resgate financeiro por parte do governo, bancos e kibutzim
lucrativos custou ao movimento kibutz considerável respeito.
Perspectiva
Ano |
População |
Número de Kibutzim |
1910 |
10 |
1 |
1920 |
805 |
12 |
1930 |
3.900 |
29 |
1940 |
26.554 |
82 |
1950 |
66.708 |
214 |
1960 |
77.950 |
229 |
1970 |
85.110 |
229 |
1980 |
111.200 |
255 |
1990 |
125.100 |
270 |
2001 |
115.500 |
267 |
O final da década de 1980 e começo da de 1990 foram uma época ruim
para o movimento kibutz uma vez que a população de kibutz envelheceu e
diminuiu, apesar de que ainda houvesse áreas vibrantes no movimento.
Naquela época, diversos novos kibutzim foram fundados no
Arava, no extremo sul de Israel, próximo a
Eilat. Um kibutz de Arava de destaque é o
Kibutz Samar, apesar deste kibutz em particular ter sido fundado em 1976.
[1]
O Kibutz Samar não se intitulava um kibutz
anarquista,
mas na prática era isso que era. Ao invés de membros serem designados
para as várias tarefas, os membros trabalham onde eles sentem que são
necessários, sem nenhuma seleção formal. O Kibutz Samar ainda possui um
caixa aberta. O Kibutz Samar mantém uma confiança entre membros que é
raramente vista em outros kibutzim.
Os kibutzniks não mais esperam transformar o resto de Israel, ou o
mundo, em um grande projeto coletivista, mas eles não desistiram de
mudar o mundo de maneiras mais específicas. Os kibutzniks são
proeminentes no
movimento ambiental de Israel. Alguns kibutzim tentam gerar toda sua energia através de
células solares. Os kibutzniks também são proeminentes entre os ativistas pela paz de Israel.
No início de
2003,
a população dos kibutzim começou a reagir de seu longo declínio. O
aumento na população que começou aquele ano continuou até o presente. A
maioria dos kibutzim que estão vendo um aumento na população são
kibutzim reestruturados.
Enquanto alguns kibutzim perdem
dinheiro,
os kibutzim são uma parte integrante do aparato defensivo de Israel,
particularmente aqueles kibutzim que ficam nas áreas fronteiriças. É
provável que o governo de Israel continue a apoiá-los para fins
militares assim como por razões políticas e históricas. Os kibutzniks
defendem subsídios apontando que todas as nações desenvolvidas subsidiam
sua agricultura.
Legado
Em sua história da Palestina sob o Mandato Britânico,
One Palestine, Complete, o pós-sionista
Tom Segev escreveu do movimento kibutz:
- O kibutz foi uma criação social original, ainda que sempre um
fenômeno marginal. Ao final dos anos 1920 não mais que 4 000 pessoas,
crianças incluídas, viveram em algo em torno de trinta kibutzim, e eles
somavam meros 2,5 por cento da população judaica da Palestina. O serviço
mais importante que os kibutzim forneceram à luta nacional foi militar,
não econômica ou social. Eles eram guardiões da terra sionista, e seus
padrões de assentamento iriam a uma grande extensão determinar as fronteiras do país. Os kibutzim também tinham um poderoso efeito na imagem própria sionista. (Segev, 252)
A visão de Segev pode ser cínica, mas ele é correto em dizer que a história de
Tel Aviv,
na qual, coincidentemente, foi fundada no mesmo ano que Degania,
poderia ser muito mais representativo da experiência do yishuv que das
histórias dos kibutzim.
Os kibutzim foram criticados por falharem em viver de acordo com seus
princípios. A maioria dos kibutzim não são auto-suficientes e têm que
empregar não-membros do kibutz como trabalhadores do campo (ou mais
tarde trabalhadores de indústria). O que foi particularmente controverso
foi o emprego de mão de obra
árabe enquanto excluía deles a possibilidade de unirem-se ao kibutz como membros plenos.
Nas décadas mais recentes, os kibutzim foram criticados por abandonar
princípios socialistas e ao invés disso, tentarem ser competitivos no
mercado. O kibutz Shamir é proprietário de uma companhia de produtos
óticos que é listada na bolsa de valores
NASDAQ.
Numerosos kibutzim deixaram de cultivar a terra e ao invés disso
desenvolveram parte de suas propriedades para fins comerciais e
industriais, construindo centros de compras e fábricas em terras do
kibutz que servem para empregar não-membros do kibutz enquanto o kibutz
retém o lucro de alguel das terras ou vendas. Da mesma forma, kibutzim
que não se engajaram nesse tipo de desenvolvimento foram criticados por
tornar-se dependentes de subsídios do estado para sobreviver.
Ainda assim, os kibutzniks tiveram um papel na sociedade de yishuv e
depois na sociedade israelense, muito além da proporção de sua
população. De
Moshe Dayan a
Ehud Barak, os kibutzniks serviram Israel em posições de liderança.
David Ben Gurion viveu a maior parte da sua vida em Tel Aviv, mas o kibutz
Sde Boker, no Neguev, foi o seu lar espiritual.
Os kibutzim também contribuíram imensamente para o crescimento do movimento de cultura hebraica. A poeta
Rachel
se entusiasmou com o cenário de mirantes de vários kibutzim da Galiléia
nos anos 1920 e 1930. O sonho de kibutz de "fazer o deserto florecer"
tornou-se parte do sonho israelense também.
Igualmente, os kibutzim afetaram desproporcionalmente a visão que o
resto do mundo tinha de Israel e a imagem que os israelenses tem de seu
país. Uma razão pela qual os socialistas apoiaram muito Israel em suas
primeiras duas décadas de existência é que os kibutzim representavam o
socialismo em sua mais pura forma. Livros e filmes sobre Israel, de
The Source de
James Michener a
Exodus de
Leon Uris,
todos têm participação de kibutzniks proeminentes. A imagem
estereotípica do kibutznik - bronzeado e vestindo um chapéu de sol de
brim - tornou-se a imagem estereotípica de todos os israelenses,
inclusive sendo usada em propaganda antissionista. No que diz respeito à
imagem que os israelenses têm de si mesmos, uma vez, quando perguntado o
que proporia para fazer sobre os milhares de israelenses que não tinham
comida suficiente para comer, o então
primeiro-ministro Ehud Barak propôs que os israelenses simplesmente abrissem a sua dispensa para os famintos, como se Israel fosse um grande kibutz.
Uma vez que ainda há mais de 250 kibutzim em Israel, pode ser
prematuro lidar com o legado do movimento kibutz. Contudo, apesar de que
possa existir centenas de entidades em Israel que se intitulam
kibutzim, o impulso coletivista se foi. Como o maior movimento
coletivista secular de todos os tempos, os kibutzim discutivelmente
possam provar que o modelo em si é economicamente sustentável, enquanto o
fervor ideológico não o é.
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